Drumoniaca
Ela quis dormir comigo,
percebi num relampago,
na faisca saltada
no meio da conversa,
perto da pista de dancas
naquele bar tipo antigo.
Ela quis mexer comigo,
como quem mexe gim
com agua tonica de quinino
mostrando a marca do pinguim
numa porra de domingo.
Ela quis beber comigo,
quando viu naquele pingo
o que haveria de intimo
entre dois estranhos perdidos
nos bares daquela avenida,
descartados quem pede pinico
ou quem se afoga em vinho tinto
trazido de contrabando
por um palhaco de circo.
Ela quis amar comigo;
nao me importa que va para casa,
e fique com o marido
todo santo dia,
e que saia com o amante
uma vez por mes, so de folia,
ou que nunca tenha feito isso.
Ela quis meter comigo,
nao por ser virgem,
ou apenas mal comida,
nem por puro furor uterino;
nada disso. Nao usou lado felino
que a empurrasse,
nem suposto feminino.
Ela quis gozar comigo
nao por castigo,
vinganca de mulher traida
contra o amante perdido
ou outro tipo de equivoco,
nem por falta de abrigo
numa noite de muito pisco.
Ela quis trepar comigo,
ainda que seja fria,
faca esporte ou pratique terapia;
que banque a suicida, a conformada,
ou que so durma de noite
a custa de bolinha.
Ela quis foder comigo;
vou te contar,
foi um perigo sentir na carne
seus olhos fixos enormes;
me deu um puta arrepio;
so de pensar nisso me incho
e sinto la dentro um vazio.
Ela quis dancar comigo,
e nem sequer foi permitido.
Pouco importam
nossos caminhos distintos.
Pouco importam, a mim,
os terrenos baldios,
os amores tardios
e a vida por um fio.
Ela quis sorrir comigo,
e esta parte ninguem tasca,
ninguem toca, esta garra
nem Deus da ou tira;
esta faca, minha amiga, inda corta,
e num dia qualquer
seu olhar ainda respinga,
como umida vagina;
seu farto peito arfa,
a venta mais se alarga,
e apesar da outra sina,
no fim da tarde, em outra casa,
em outra esquina,
ainda me da um arrepio:
Ela quis dormir comigo!
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