sexta-feira, 2 de maio de 2008

Drumoniaca

Ela quis dormir comigo,

percebi num relampago,

na faisca saltada

no meio da conversa,

perto da pista de dancas

naquele bar tipo antigo.

Ela quis mexer comigo,

como quem mexe gim

com agua tonica de quinino

mostrando a marca do pinguim

numa porra de domingo.

Ela quis beber comigo,

quando viu naquele pingo

o que haveria de intimo

entre dois estranhos perdidos

nos bares daquela avenida,

descartados quem pede pinico

ou quem se afoga em vinho tinto

trazido de contrabando

por um palhaco de circo.

Ela quis amar comigo;

nao me importa que va para casa,

e fique com o marido

todo santo dia,

e que saia com o amante

uma vez por mes, so de folia,

ou que nunca tenha feito isso.

Ela quis meter comigo,

nao por ser virgem,

ou apenas mal comida,

nem por puro furor uterino;

nada disso. Nao usou lado felino

que a empurrasse,

nem suposto feminino.

Ela quis gozar comigo

nao por castigo,

vinganca de mulher traida

contra o amante perdido

ou outro tipo de equivoco,

nem por falta de abrigo

numa noite de muito pisco.

Ela quis trepar comigo,

ainda que seja fria,

faca esporte ou pratique terapia;

que banque a suicida, a conformada,

ou que so durma de noite

a custa de bolinha.

Ela quis foder comigo;

vou te contar,

foi um perigo sentir na carne

seus olhos fixos enormes;

me deu um puta arrepio;

so de pensar nisso me incho

e sinto la dentro um vazio.

Ela quis dancar comigo,

e nem sequer foi permitido.

Pouco importam

nossos caminhos distintos.

Pouco importam, a mim,

os terrenos baldios,

os amores tardios

e a vida por um fio.

Ela quis sorrir comigo,

e esta parte ninguem tasca,

ninguem toca, esta garra

nem Deus da ou tira;

esta faca, minha amiga, inda corta,

e num dia qualquer

seu olhar ainda respinga,

como umida vagina;

seu farto peito arfa,

a venta mais se alarga,

e apesar da outra sina,

no fim da tarde, em outra casa,

em outra esquina,

ainda me da um arrepio:

Ela quis dormir comigo!

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