sexta-feira, 2 de maio de 2008

Todos os homens não são bastante filósofos para estimar uma mulher apenas por seu espírito e coração e os próprios filósofos não se aborreceriam por encontrar reunidas a beleza do corpo e as qualidades da alma.

Thomas Morus

Antes de tudo, tem as mulheres o atrativo da beleza, que com razão preferem a todas as outras, pois é graças a esta que exercem uma absoluta tirania sobre os mais bárbaros tiranos. Sabereis de que provém aquele aspecto feio, aquela pele híspida, aquela barba cerrada que fazem parecer velho um homem que ainda se acha na flor dos anos ? Eu vos direi, provém do maldito vício da prudência, do que são privadas as mulheres, que por isso sempre conservam a frescura da face, a sutileza da voz, a maciez da carne, parecendo não acabar nunca para elas, a flor da juventude. Além disso, que preocupação tem as mulheres, a não ser a de proporcionar aos homens o maior prazer possível ? Não será esta a única razão dos enfeites, do carmim, dos banhos, dos penteados, dos perfumes, das essências aromáticas e tantos outros artifícios e modas sempre diferentes de vestir-se e disfarçar os defeitos, realçando a graça do rosto, dos olhos, da cor ? Quereis prova mais evidente de que só a loucura constitui o ascendente das mulheres sobre os homens ? Os homens tudo concedem às mulheres por causa da volúpia e, por conseguinte, só com a loucura que as mulheres agradam aos homens. Para confirmar ainda mais esta conclusão, basta refletir nas tolices que se dizem, nas loucuras que se fazem com as mulheres, quando se anseia por extingüir o fogo do amor.

Erasmo de Roterdam

Senhor, disse-lhe eu, dá uma mulher ao homem, por que embora seja a mulher um animal inepto e estúpido, não deixa contudo de ser alegre e suave, e, vivendo familiarmente com o homem, saberá temperar com sua loucura o humor áspero e triste deste.

Erasmo de Roterdam

Toda a arte deve dar prazer - o tipo de prazer é que varia. A arte inferior dá prazer porque distrai, liberdade por que liberta das preocupações da vida; a arte superior menor dá prazer porque alegra, liberdade porque liberta das imperfeição da vida; a arte superior dá prazer porque liberta, liberdade porque liberta da própria vida.

Fernando Pessoa

Agora entra aqui um homem por quem estou muito apaixonada. Ele aparece no quarto e vai dizendo: ‘ deixe-me despir você ‘. Este homem virá e me despirá lentamente . Isto me dará bastante tempo para senti-lo , para ter suas mãos sobre mm. Antes de tudo ele abrirá meu cinto , tocará minha cintura com as duas mãos e dirá : ‘que linda cintura você tem , como é estreita, que belas curvas!’ Aí então desabotoará minha blusa muito devagar e eu sentirei suas mãos em cada botão e depois tocando meus seios pouco a pouco, até que eles saiam da blusa. Aí ele os amará e sugará os bicos como se fosse uma criança, machucando-me um pouco com os dentes. E eu sentirei tudo isso se espalhando pelo meu corpo, liberando todo os meus nervos e me dissolvendo num mar de desejo. Ficará impaciente com a saia. Estará desesperado de paixão. Não apagará a luz. Ficará me olhando, me admirando, me adorando, aquecendo meu corpo com as mãos, esperando que eu esteja totalmente excitada, até que cada poro do meu corpo tenha despertado para o amor.

Anais Nïn

maiakowski

TU



Entraste.

A sério, olhaste

a estatura,

o bramido

e simplesmente adivinhaste:

uma criança.

Tomaste,

arrancaste-me o coração

e simplesmente foste com ele jogar

como uma menina com sua bola.

E todas,

como se vissem um milagre,

senhoras e senhorias exclamaram:

- A esse amá-lo?

Se se atira em cima,

derruba a gente!

Ela, com certeza, é domadora!

Por certo, saiu duma jaula!

E eu júbilo

esqueci o julgo.

Louco de alegria

saltava

como em casamento de índio,

tão leve, tão bem me sentia.





DEDUÇÃO



Não acabarão com o amor,

nem as rusgas,

nem a distância.

Está provado,

pensado,

verificado.

Aqui levanto solene

minha estrofe de mil dedos

e faço o juramento:

Amo

firme,

fiel

e verdadeiramente.




O Amor



Um dia, quem sabe,

ela, que também gostava de bichos,

apareça

numa alameda do zoo,

sorridente,

tal como agora está

no retrato sobre a mesa,.

Ela é tão bela,

que, por certo, hão de ressuscitá-la.

Vosso Trigésimo Século

ultrapassará o exame

de mil nadas,

que dilaceravam o coração.

Então,

de todo amor não terminado

seremos pagos

em enumeráveis noites de estrelas.

Ressuscita-me,

nem que seja só porque te esperava

como um poeta,

repelindo o absurdo quotidiano!

Ressuscita-me,

nem que seja só por isso!

Ressuscita-me!

Quero viver até o fim o que me cabe!

Para que o amor não seja mais escravo

de casamentos,

concupiscência,

salários.

Para que, maldizendo os leitos,

saltando dos coxins,

o amor se vá pelo universo inteiro.

Para que o dia,

que o sofrimento degrada,

não vos seja chorado, mendigado.

E que, ao primeiro apelo:

- Camaradas!

Atenta se volte a terra inteira.

Para viver

livre dos nichos das casa.

Para que

doravante

a família

seja

o pai,

pelo menos o Universo;

a mãe,

pelo menos a Terra.
"O artista como artista sente menos do que os outros homens porque produz ao
mesmo tempo que sente, e nesse caso há uma dualidade de espírito incompatível
com o estar entregue a um sentimento."

EMOÇÃO E POESIA

Quem quer que seja de algum modo um poeta sabe muito bem quão mais fácil é
escrever um bom poema (se os bons poemas se acham ao alcance do homem) a respeito
de uma mulher que lhe interessa muito do que a respeito de uma mulher pela qual está
profundamente apaixonado. A melhor espécie de poema de amor é, em geral, escrita a
respeito de uma mulher abstrata.

Uma grande emoção é por demais egoísta; absorve em si própria todo o sangue do
espírito, e a congestão deixa as mãos demasiado frias para escrever. Três espécies de
emoções produzem grande poesia - emoções fortes e profundas ao serem lembradas
muito tempo depois; e emoções falsas, isto é, emoções sentidas no intelecto. Não a
insinceridade, mas sim, uma sinceridade traduzida, é a base de toda a arte.

O grande general que pretende ganhar uma batalha para o império de seu país e
para a história de seu povo não deseja - não pode desejar ter muitos de seus soldados
assassinados (mortos). Contudo, uma vez que tenha penetrado na contemplação de sua
estratégia, escolherá (sem um pensamento para seus homens) o golpe melhor, embora o
faça perder cem mil homens, em vez da estratégia pior, ou mesmo a mais lenta, que lhe
pode deixar nove décimos daqueles homens com quem e por quem luta, e a quem, em
geral, ama. Torna-se um artista por amor a seus compatriotas, e expõe-nos à carnificina
por causa de sua estratégia.

Fernando Pessoa.

Nas noites do tempo,

Moldei em mim o teu semblante.

E nos invernos da vida,

Troquei de roupagem a espera de ti.

Tal qual viajor errante,

Busquei nos céus e na terra,

Mal sabendo que a eternidade

Um dia me reservara a ti.

R. H. Portanianos

Drumoniaca

Ela quis dormir comigo,

percebi num relampago,

na faisca saltada

no meio da conversa,

perto da pista de dancas

naquele bar tipo antigo.

Ela quis mexer comigo,

como quem mexe gim

com agua tonica de quinino

mostrando a marca do pinguim

numa porra de domingo.

Ela quis beber comigo,

quando viu naquele pingo

o que haveria de intimo

entre dois estranhos perdidos

nos bares daquela avenida,

descartados quem pede pinico

ou quem se afoga em vinho tinto

trazido de contrabando

por um palhaco de circo.

Ela quis amar comigo;

nao me importa que va para casa,

e fique com o marido

todo santo dia,

e que saia com o amante

uma vez por mes, so de folia,

ou que nunca tenha feito isso.

Ela quis meter comigo,

nao por ser virgem,

ou apenas mal comida,

nem por puro furor uterino;

nada disso. Nao usou lado felino

que a empurrasse,

nem suposto feminino.

Ela quis gozar comigo

nao por castigo,

vinganca de mulher traida

contra o amante perdido

ou outro tipo de equivoco,

nem por falta de abrigo

numa noite de muito pisco.

Ela quis trepar comigo,

ainda que seja fria,

faca esporte ou pratique terapia;

que banque a suicida, a conformada,

ou que so durma de noite

a custa de bolinha.

Ela quis foder comigo;

vou te contar,

foi um perigo sentir na carne

seus olhos fixos enormes;

me deu um puta arrepio;

so de pensar nisso me incho

e sinto la dentro um vazio.

Ela quis dancar comigo,

e nem sequer foi permitido.

Pouco importam

nossos caminhos distintos.

Pouco importam, a mim,

os terrenos baldios,

os amores tardios

e a vida por um fio.

Ela quis sorrir comigo,

e esta parte ninguem tasca,

ninguem toca, esta garra

nem Deus da ou tira;

esta faca, minha amiga, inda corta,

e num dia qualquer

seu olhar ainda respinga,

como umida vagina;

seu farto peito arfa,

a venta mais se alarga,

e apesar da outra sina,

no fim da tarde, em outra casa,

em outra esquina,

ainda me da um arrepio:

Ela quis dormir comigo!

Nelson Motta

barato zen

louco de fumo diante da tv

contemplo a tela iluminada e penso

na ânsia de criar, de ir adiante

que tanto me consome e angustia

e sinto que a vida não se faz

somente pela ação e movimento

enquanto me abrigo em meu silêncio

e deixo que a tv me hipnotize

nesse momento tonto e inativo

nada é urgente, nada é necessário

além de aceitar serenamente

a hora de não ser

e de ser nada.

não tendo mais

tempo nem saco

para tanto papo

o príncipe de saudades

do tempo em que era sapo

Veredicto

Toda vez que me procurares

para coisas vulgares,

não te darei o prazer de rir

da tua própria frieza,

pois não me encontrarás.

Agenor Lombardo