sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O poeta propõe seu epitáfio
(Julio Cortázar)

Por haver mentido muito ganhou um céu
mesquinho, a ser refeito todos os dias.
Por ser traidor até à traição, o amavam
as pessoas honradas.
Exigia virtudes que não dava
e sorria para que esquecessem.
Não viveu. Viviam-no um corpo desapiedado
e uma cadela sedenta, Inteligência.
Por não acreditar senão no belo, foi
um lixo na lixeira,
mas ainda assim fitava o céu.
Está morto, por sorte. Logo surgirá
algum outro como ele.

Tradução de Tonico Mercador.
desastre de uma idéia

só o durante dura

aquilo que o dia adianta adia



estranhas formas assume a vida

quando eu como tudo que me convida

e coisas alguma me sacia



formas estranhas assume a fome

quando o dia é desordem,

e meu sonho dorme



fome da china fome da índia

fome que ainda não tomou cor

essa fúria que quer

seja lá o que flor

leminski

terça-feira, 2 de setembro de 2008

LICENÇA POÉTICA.

Acordo
seguidas vezes
no meio
da noite.
Acordo
mas não abro os olhos.
Não tateio o vazio
sei que ele está
Ao meu lado.
Só não sei
Se desperto.
Nos amarrotados lençóis
Da cama que desfiz
Há quase dez
Dias.
Nunca mais alinhei.
Sei que era dia 4
de setembro
dos nossos dias.
Dia que postei
Um mapa
de um lugar familiar e estranho
ao mesmo tempo.
Agora
É cada dia menos
familiar.
Conheço as ruas
que me aprisionam
ao redor.
Acordo e creio não ser
Iliya.
Mesmo ocupando
O seu lugar.
Espero que alguém
Possa ocupar
o espaço
que deixei.
E assim um outro
Que não esse
personagem
de chapéu
possa crer
que sou eu.
E eu pensarei
que voltei.
Cada dia que passa
cria
um novo
Nós.

lourenço mutarelli

terça-feira, 19 de agosto de 2008

cogito

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferivel
do que homem que iniciei
na medida do impossivel

eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim

Torquato Neto

20.10.70

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

Fernando Pessoa, 2-8-1933.

domingo, 27 de julho de 2008

Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

senão assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

Pablo Neruda

sábado, 26 de julho de 2008

Cara B (Lado B)

Letra e música: Jorge Drexler
Mal traduzido por: Nilo Neto

Si cuando vuelves a casa
me ves sombrío,
dándole vueltas al vals
del desconsuelo,
ten compasión de esta falta de luz,
hoy soy una moneda que tiene dos lados de cruz.

Se quando voltas pra casa,
me vês sombrio,
dando voltas na valsa
do desconsolo,
tem compaixão dessa falta de luz,
hoje eu sou uma moeda que só tem coroa.

Y si me notas lejos
estando a tu lado,
como una réplica mala
de lo que yo era,
tómate en broma mi salto mortal,
hoy soy sólo una copia y tu tienes el original.

E se me notas longe
estando ao teu lado,
como uma cópia ruim
do que eu era,
leva na brincadeira meu salto mortal,
hoje sou só uma cópia e tu tens o original.


No le hagas caso
a tanto misterio,
vos ya sabés la verdad ;
que no hay nada peor para esta seriedad
que tomársela en serio.

Não faças caso
de tanto mistério,
tu já sabes a verdade,
que não há nada pior que essa seriedade,
que levá-la a sério.

Deja que hable
tu cercanía,
vos conocés la razón,
y no hay nada peor para este corazón
que una casa vacía.

Deixa que fale
tua proximidade,
tu conheces a razão
e não há nada pior pra esse coração,
que uma casa vazia.

Deja pasar
esta falta de fé,
este disco rayado que hoy
tiene sólo
cara B.

Deixa passar
essa falta de fé,
esse disco riscado que hoje,
tem só lado b.

terça-feira, 1 de julho de 2008

ALE EDO

ETOLOGIA

cachorros se masturbam
em bostas e bocetas
cadelas se masturbam
em bancos e bestas

eles se esfregam
em beiços e bundas vagabundas
mas só assumem filhos
de bocetas comportadas

elas alisam bichos de rua
gargalham com bichas e poetas
mas só se enroscam em gravatas.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...

Vinícius de Moraes
cogito

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferivel
do que homem que iniciei
na medida do impossivel

eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim

Torquato Neto
20.10.70

segunda-feira, 23 de junho de 2008

A noite na Ilha

Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos

sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam.

Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora - pão,
vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos,
porque tu és a taça que só esperava
os dons da minha vida.

Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura.

Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca
saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia.

Pablo Neruda

quarta-feira, 18 de junho de 2008

longo o caminho até o céu.
essa minha alma vagabunda,
com gosto de quarto de hotel.

leminski

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
E mais nada.

CECÍLIA MEIRELES
    JOSÉ

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Todos os homens não são bastante filósofos para estimar uma mulher apenas por seu espírito e coração e os próprios filósofos não se aborreceriam por encontrar reunidas a beleza do corpo e as qualidades da alma.

Thomas Morus

Antes de tudo, tem as mulheres o atrativo da beleza, que com razão preferem a todas as outras, pois é graças a esta que exercem uma absoluta tirania sobre os mais bárbaros tiranos. Sabereis de que provém aquele aspecto feio, aquela pele híspida, aquela barba cerrada que fazem parecer velho um homem que ainda se acha na flor dos anos ? Eu vos direi, provém do maldito vício da prudência, do que são privadas as mulheres, que por isso sempre conservam a frescura da face, a sutileza da voz, a maciez da carne, parecendo não acabar nunca para elas, a flor da juventude. Além disso, que preocupação tem as mulheres, a não ser a de proporcionar aos homens o maior prazer possível ? Não será esta a única razão dos enfeites, do carmim, dos banhos, dos penteados, dos perfumes, das essências aromáticas e tantos outros artifícios e modas sempre diferentes de vestir-se e disfarçar os defeitos, realçando a graça do rosto, dos olhos, da cor ? Quereis prova mais evidente de que só a loucura constitui o ascendente das mulheres sobre os homens ? Os homens tudo concedem às mulheres por causa da volúpia e, por conseguinte, só com a loucura que as mulheres agradam aos homens. Para confirmar ainda mais esta conclusão, basta refletir nas tolices que se dizem, nas loucuras que se fazem com as mulheres, quando se anseia por extingüir o fogo do amor.

Erasmo de Roterdam

Senhor, disse-lhe eu, dá uma mulher ao homem, por que embora seja a mulher um animal inepto e estúpido, não deixa contudo de ser alegre e suave, e, vivendo familiarmente com o homem, saberá temperar com sua loucura o humor áspero e triste deste.

Erasmo de Roterdam

Toda a arte deve dar prazer - o tipo de prazer é que varia. A arte inferior dá prazer porque distrai, liberdade por que liberta das preocupações da vida; a arte superior menor dá prazer porque alegra, liberdade porque liberta das imperfeição da vida; a arte superior dá prazer porque liberta, liberdade porque liberta da própria vida.

Fernando Pessoa

Agora entra aqui um homem por quem estou muito apaixonada. Ele aparece no quarto e vai dizendo: ‘ deixe-me despir você ‘. Este homem virá e me despirá lentamente . Isto me dará bastante tempo para senti-lo , para ter suas mãos sobre mm. Antes de tudo ele abrirá meu cinto , tocará minha cintura com as duas mãos e dirá : ‘que linda cintura você tem , como é estreita, que belas curvas!’ Aí então desabotoará minha blusa muito devagar e eu sentirei suas mãos em cada botão e depois tocando meus seios pouco a pouco, até que eles saiam da blusa. Aí ele os amará e sugará os bicos como se fosse uma criança, machucando-me um pouco com os dentes. E eu sentirei tudo isso se espalhando pelo meu corpo, liberando todo os meus nervos e me dissolvendo num mar de desejo. Ficará impaciente com a saia. Estará desesperado de paixão. Não apagará a luz. Ficará me olhando, me admirando, me adorando, aquecendo meu corpo com as mãos, esperando que eu esteja totalmente excitada, até que cada poro do meu corpo tenha despertado para o amor.

Anais Nïn

maiakowski

TU



Entraste.

A sério, olhaste

a estatura,

o bramido

e simplesmente adivinhaste:

uma criança.

Tomaste,

arrancaste-me o coração

e simplesmente foste com ele jogar

como uma menina com sua bola.

E todas,

como se vissem um milagre,

senhoras e senhorias exclamaram:

- A esse amá-lo?

Se se atira em cima,

derruba a gente!

Ela, com certeza, é domadora!

Por certo, saiu duma jaula!

E eu júbilo

esqueci o julgo.

Louco de alegria

saltava

como em casamento de índio,

tão leve, tão bem me sentia.





DEDUÇÃO



Não acabarão com o amor,

nem as rusgas,

nem a distância.

Está provado,

pensado,

verificado.

Aqui levanto solene

minha estrofe de mil dedos

e faço o juramento:

Amo

firme,

fiel

e verdadeiramente.




O Amor



Um dia, quem sabe,

ela, que também gostava de bichos,

apareça

numa alameda do zoo,

sorridente,

tal como agora está

no retrato sobre a mesa,.

Ela é tão bela,

que, por certo, hão de ressuscitá-la.

Vosso Trigésimo Século

ultrapassará o exame

de mil nadas,

que dilaceravam o coração.

Então,

de todo amor não terminado

seremos pagos

em enumeráveis noites de estrelas.

Ressuscita-me,

nem que seja só porque te esperava

como um poeta,

repelindo o absurdo quotidiano!

Ressuscita-me,

nem que seja só por isso!

Ressuscita-me!

Quero viver até o fim o que me cabe!

Para que o amor não seja mais escravo

de casamentos,

concupiscência,

salários.

Para que, maldizendo os leitos,

saltando dos coxins,

o amor se vá pelo universo inteiro.

Para que o dia,

que o sofrimento degrada,

não vos seja chorado, mendigado.

E que, ao primeiro apelo:

- Camaradas!

Atenta se volte a terra inteira.

Para viver

livre dos nichos das casa.

Para que

doravante

a família

seja

o pai,

pelo menos o Universo;

a mãe,

pelo menos a Terra.
"O artista como artista sente menos do que os outros homens porque produz ao
mesmo tempo que sente, e nesse caso há uma dualidade de espírito incompatível
com o estar entregue a um sentimento."

EMOÇÃO E POESIA

Quem quer que seja de algum modo um poeta sabe muito bem quão mais fácil é
escrever um bom poema (se os bons poemas se acham ao alcance do homem) a respeito
de uma mulher que lhe interessa muito do que a respeito de uma mulher pela qual está
profundamente apaixonado. A melhor espécie de poema de amor é, em geral, escrita a
respeito de uma mulher abstrata.

Uma grande emoção é por demais egoísta; absorve em si própria todo o sangue do
espírito, e a congestão deixa as mãos demasiado frias para escrever. Três espécies de
emoções produzem grande poesia - emoções fortes e profundas ao serem lembradas
muito tempo depois; e emoções falsas, isto é, emoções sentidas no intelecto. Não a
insinceridade, mas sim, uma sinceridade traduzida, é a base de toda a arte.

O grande general que pretende ganhar uma batalha para o império de seu país e
para a história de seu povo não deseja - não pode desejar ter muitos de seus soldados
assassinados (mortos). Contudo, uma vez que tenha penetrado na contemplação de sua
estratégia, escolherá (sem um pensamento para seus homens) o golpe melhor, embora o
faça perder cem mil homens, em vez da estratégia pior, ou mesmo a mais lenta, que lhe
pode deixar nove décimos daqueles homens com quem e por quem luta, e a quem, em
geral, ama. Torna-se um artista por amor a seus compatriotas, e expõe-nos à carnificina
por causa de sua estratégia.

Fernando Pessoa.

Nas noites do tempo,

Moldei em mim o teu semblante.

E nos invernos da vida,

Troquei de roupagem a espera de ti.

Tal qual viajor errante,

Busquei nos céus e na terra,

Mal sabendo que a eternidade

Um dia me reservara a ti.

R. H. Portanianos

Drumoniaca

Ela quis dormir comigo,

percebi num relampago,

na faisca saltada

no meio da conversa,

perto da pista de dancas

naquele bar tipo antigo.

Ela quis mexer comigo,

como quem mexe gim

com agua tonica de quinino

mostrando a marca do pinguim

numa porra de domingo.

Ela quis beber comigo,

quando viu naquele pingo

o que haveria de intimo

entre dois estranhos perdidos

nos bares daquela avenida,

descartados quem pede pinico

ou quem se afoga em vinho tinto

trazido de contrabando

por um palhaco de circo.

Ela quis amar comigo;

nao me importa que va para casa,

e fique com o marido

todo santo dia,

e que saia com o amante

uma vez por mes, so de folia,

ou que nunca tenha feito isso.

Ela quis meter comigo,

nao por ser virgem,

ou apenas mal comida,

nem por puro furor uterino;

nada disso. Nao usou lado felino

que a empurrasse,

nem suposto feminino.

Ela quis gozar comigo

nao por castigo,

vinganca de mulher traida

contra o amante perdido

ou outro tipo de equivoco,

nem por falta de abrigo

numa noite de muito pisco.

Ela quis trepar comigo,

ainda que seja fria,

faca esporte ou pratique terapia;

que banque a suicida, a conformada,

ou que so durma de noite

a custa de bolinha.

Ela quis foder comigo;

vou te contar,

foi um perigo sentir na carne

seus olhos fixos enormes;

me deu um puta arrepio;

so de pensar nisso me incho

e sinto la dentro um vazio.

Ela quis dancar comigo,

e nem sequer foi permitido.

Pouco importam

nossos caminhos distintos.

Pouco importam, a mim,

os terrenos baldios,

os amores tardios

e a vida por um fio.

Ela quis sorrir comigo,

e esta parte ninguem tasca,

ninguem toca, esta garra

nem Deus da ou tira;

esta faca, minha amiga, inda corta,

e num dia qualquer

seu olhar ainda respinga,

como umida vagina;

seu farto peito arfa,

a venta mais se alarga,

e apesar da outra sina,

no fim da tarde, em outra casa,

em outra esquina,

ainda me da um arrepio:

Ela quis dormir comigo!

Nelson Motta

barato zen

louco de fumo diante da tv

contemplo a tela iluminada e penso

na ânsia de criar, de ir adiante

que tanto me consome e angustia

e sinto que a vida não se faz

somente pela ação e movimento

enquanto me abrigo em meu silêncio

e deixo que a tv me hipnotize

nesse momento tonto e inativo

nada é urgente, nada é necessário

além de aceitar serenamente

a hora de não ser

e de ser nada.

não tendo mais

tempo nem saco

para tanto papo

o príncipe de saudades

do tempo em que era sapo

Veredicto

Toda vez que me procurares

para coisas vulgares,

não te darei o prazer de rir

da tua própria frieza,

pois não me encontrarás.

Agenor Lombardo

sexta-feira, 25 de abril de 2008

CAMENA

DORMIREI UMA NOITE
AOS PES EROS...
E PEDIREI SEU PERDAO
SOBRE O SEU DORSO ADORMECEREI...
SONHOS EROTICOS...HA MUI ESQUECIDOS
MAS NAO USAREI ESSE SONHO
PQ COMETI
O O MAIOR DOS PECADOS
O MAIOR DOS AMORES...
EU ME APAIXONEI PELO MEU DEUS!!!!
Quando a noite me entende (Vinicius de Moraes)

Quando, no fim de uma tarde
Não há quem me aguarde
Que melancolia
Sou uma coisa infeliz
Que num copo de whisky
Disfarça a alegria

E quando a noite me entende
E a mão que se estende
É amiga da minha
Mesmo que seja ilusão
Bate mais em meu peito
Esse meu coração, coração

Coração, toma jeito
Bate mais devagar em meu peito
Deixa a mania do amor
Se sou feliz ou infeliz
Pouco importa, o que conforta
É ter vivo esse meu coração

domingo, 20 de abril de 2008

Nova Visão

BNegão

Composição: (Letra: Bnegão/ Música: Bnegão, Muzak e Pedro Garcia)

Uma nova revelação, você sempre soube mas ainda não tinha compreendido
Uma nova humanização, a nova geração, passando de mono pra estéreo, em vários tons, é sério, é sério
O microfone, meu megafone, tome emprestado um pouco da minha energia, tem sobrando pra todos os lados
Força importante, uma força a mais pra aturar a pressão que tenta esmagar sua mente contra a parede chapiscada da ilusão
Enxergando a realidade por de trás, depois da curva
Apesar da visão turva e obscura da humanidade em geral
Miopia espiritual, pegou um, pegou geral
Dignidade, simplicidade, infelizmente se tornaram artigos de luxo na atualidade
Falta de vontade, disparidade entre discurso e atitude são maiores pilares dessa situação
Escalafobética, patética, na qual nos metemos, pela qual vivemos e morremos
Algumas vezes mais, pra aprender, reconhecer a todos como irmãos, uns mais evoluídos, outros não… mas todos com sua missão
UMA NOVA VISÃO (3X)
O microfone, meu megafone, passando de mono pra estéreo a sua compreensão
Na real, discutir sobre o fim da violência é quase que total perda de tempo, paleativo, nem o sujeiro mais socialmente ativo irá conseguir mudanças minimamente palpáveis
Praticamente apenas praticará o esporte mais popular da humanidade, jogar palavras ao léu, jogar palavras ao vento
Nada muda, enquanto não mudarem os valores na raiz de todos, eu disse todos, exploradores e explorados, violentadores e violentados, tudo é meio a meio, tudo caminha lado-a-lado
Não sei se me entende, mas o que eu digo que a maioria, se movimenta a ação é sempre a mesma
Cadeia alimentar, lei da selva, o mais forte destroça, atropela, passa por cima do mais fraco
Consumismo, super valorização da matéria: o lado espiritual, ou seja, o real, ficou na miséria, a mesma que domina e povoa o planeta terra por sinal
Competição a todo custo, vitória a qualquer custo, estilo de vida fatal, que resultou nesse fiasco, nesse insulto que é hoje a humanidade, esse fracasso
“Faça o que eu falo, não faça o que eu faço”
Eu digo, isso pra mim é o primeiro passo pro que, em bom português, se chama hipocrisia, como é no alto clero, como é em Brasília
B black bota o dedo na ferida, antes de querer que a humanidade mude, que tal mudar um pouco nosso próprio ponto de vista?
Refrão
Paciência sem subserviência é a combinação mais poderosa desse mundo: somos realmente uma coisa só
O efeito bumerangue taí, provando, levando e trazendo o que há de melhor e pior
Plantamos e colhemos em outros cantos e aqui mesmo, portanto não seja dissimulado, você sabe o que está acontecendo
No centro de tudo, no centro da questão tá a preguiça, a falta de disposição pra mudar
Várias preguiças somadas e o mundo sente o efeito, mentalidade falida, morta viva, não tem jeito
Eu tô dizendo: é preciso quebrar as regras daqui, seguir as regras de lá, com confiança, sangue frio, sem se apavorar
Cada um no seu tempo, cada qual no seu caminho, estradas separadas seguindo pro mesmo objetivo. Destino ou não
Pelo menos no momento, uns mais rápidos, outros lentos, porém no subconsciente todos atentos
Formigamento ao ouvir o chamado, eu não invento nada, só transmito os recados, os fragmentos
Fábio, meu irmão, seguimos na missão, a cabeça erguida e no peito a batida que for, meu coração é exclusivo só do meu senhor
Estilo libertário, vivo nesse mundo mas não sou presidiário da matéria
Procuro me disvicular cada vez mais, desapegar, usar somente o necessário pra passar
Pois quando menos se espera, lá vem mais uma despedida do planeta terra… /

sábado, 12 de abril de 2008

Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...


Fernando Pessoa

TO BORACHO!!!VAZIO:SATURNO TA MUDANDO A RELAÇÃO COM OS DISCOS VOADORES...PORQUE OS GNOMOS ESTÃO CHEGANDO SUTILMENTE...AGÓRA VAIAVER UMA EXPLOSÃO DE RAIOS MAGMATICOS DE REALIDADE CÓSMICA TANTRICA NO MAR DO SOL DA ILHA DA SEDUÇAO EMOCIONAL...
VAMOS SOBREVIVER SEM DIAGNÓSTICOS...
LUA NÓVACRESCENDO

FERNANDO AUACATEPE

domingo, 23 de março de 2008

Outro
(Caetano Veloso)

você nem vai me reconhecer
quando eu passar por você
de cara alegre e cruel
feliz e mau como um pau duro
acendendo-se no escuro
cascavel
eriçada na moita
concentrada e afoita
eu já chorei muito por você
também já fiz você chorar
agora olhe pra lá porque
eu fui me embora
você nem vai me reconhecer
quando eu passar por você

domingo, 2 de março de 2008

"Meu benzinho adorado minha triste irmãzinha eu te peço por tudo o que há de mais sagrado que você me escreva uma cartinha sim dizendo como é que você vai que eu não sei eu ando tão zaranza por causa do teu abandono eu choro e um dia pego tomo um porre danado que você vai ver e aí nunca mais mesmo que você me quer e sabe o que eu faço eu vou-me embora para sempre e nunca mais vejo esse rosto lindo que eu adoro porque você é toda a minha vida e eu só escrevo por tua causa ingrata e só trabalho para casar com você quando a gente puder porque agora tudo está tão difícil mas melhora não se afobe e tenha confiança em mim que te quero acima do próprio Deus que me perdoe eu dizer isso mais é sincero porque ele sabe que ontem pensei todo o dia em você e acabei chorando no rádio por causa daquele estudo de Chopin que você tocou antes de eu ir-me embora e imagina só que estou fazendo uma história para você muito bonita e quando chega de noite eu fico tão triste que até dá pena e tenho vontade de ir correndo te ver e beijo o ar feito bobo com uma coisa no coração que já fui até no médico mas ele disse que é nervoso e me falou que eu sou emotivo e eu peguei ri na cara dele e ele ficou uma fera que a medicina dele não sabe que o meu bem está longe melhor para ele eu só queria te ver uma meia hora eu pedia tanto que você acabava ficando enfim adeus que já estou até cansado de tanta saudade e tem gente aqui perto e fica feio eu chorar na frente deles eu não posso adeus meu rouxinol me diz boa-noite e dorme pensando neste que te adora e se puder pensa o menos possível no teu amigo para você não se entristecer muito que só mereces felicidade do teu definitivo e sempre amigo..."

Vinícius de Moraes

Meu Amor, Minha Flor, Minha Menina

Zeca Baleiro

Meu amor minha flor minha menina
Solidão não cura com aspirina
Tanto que eu queria o teu amor

Vem me trazer calor, fervor, fervura
Me vestir do terno da ternura
Sexo também é bom negócio
O melhor da vida é isso e ócio
Isso e ócio

Minha cara, minha Carolina
A saudade ainda vai bater no teto
Até um canalha precisa de afeto
Dor não cura com penicilina

Meu amor minha flor minha menina
Tanto que eu queria o teu amor
Tanto amor em mim como um quebranto
Tanto amor em mim, em ti nem tanto

Minha cora minha coralina
mais que um goiás de amor carrego
destino de violeiro cego

Há mais solidão no aeroporto
Que num quarto de hotel barato
Antes o atrito que o contrato

Telefone não basta ao desejo
O que mais invejo é o que não vejo
O céu é azul, o mar também

Se bem que o mar as vezes muda,
Não suporto livros de auto-ajuda
Vem me ajudar, me dá seu bem

Meu amor minha flor minha menina
Tanto que eu queria o teu amor
Tanto amor em mim como um quebranto
Tanto amor em mim, em ti nem tanto

sábado, 19 de janeiro de 2008

Tá Combinado

Peninha

Então tá combinado, é quase nada
É tudo somente sexo e amizade.
Não tem nenhum engano nem mistério.
É tudo só brincadeira e verdade.
Podemos ver o mundo juntos,
Sermos dois e sermos muitos,
Nos sabermos sós sem estarmos sós.
Abrirmos a cabeça
Para que afinal floresça
O mais que humano em nós.
Então tá tudo dito e é tão bonito
E eu acredito num claro futuro
de música, ternura e aventura
Pro equilibrista em cima do muro.
Mas e se o amor pra nós chegar,
De nós, de algum lugar
Com todo o seu tenebroso esplendor?
Mas e se o amor já está,
se há muito tempo que chegou
E só nos enganou?
Então não fale nada, apague a estrada
Que seu caminhar já desenhou
Porque toda razão, toda palavra
Vale nada quando chega o amor...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Canção Quase Inquieta

De um Lado, a eterna estrela
e do outro a vaga incerta,

meu pé dançando pela
extremidade da espuma,
e meu cabelo por uma
planície de luz deserta

Sempre assim:
de um lado, estandartes do vento ...
- do outro, sepulcros fechados.
E eu me partindo, dentro de mim,
para estar ao mesmo momento
de ambos os lados.

Se existe a tua Figura,
se és o Sentido do Mundo,
deixo-me, fujo por ti,
nunca mais quero ser minha!

(Mas, neste espelho, no fundo
desta fria luz marinha
como dois baços peixes,
nadam meus olhos à minha procura ...
Ando contigo - e sozinha.
Vivo longe - e acham-me aqui...)

Fazedor da minha vida,
não me deixes!
Entende a minha canção!
Tem pena do meu murmúrio,
reúne-me em tua mão!

Que eu sou gota de mercúrio
dividida,
desmanchado pelo chão ...

C. Meirelles