Óbvio
Poema da buceta cabeluda - Bráulio Tavares
A buceta da minha amada
tem pêlos barrocos, lúdicos, profanos.
É faminta como o polígono-das-secas e
cheia de ritmos como o recôncavo-baiano.
A buceta da minha amada
é cabeluda como um tapete persa.
É um buraco-negro bem no meio
do púbis do Universo.
A buceta da minha amada é cabeluda,
misteriosa, sonâmbula.
É bela como uma letra grega:
é o alfa-e-ômega dos meus segredos,
é um delta ardente sob os meus dedos
e na minha língua é lambda.
A buceta da minha amada é um tesouro
é o Tosão de Ouro é um tesão.
É cabeluda, e cabe, linda,
em minha mão.
A buceta da minha amada
me aperta dentro,
de um tal jeito
que quase me morde;
e só não é mais cabeluda
do que as coisas
que ela geme quando a gente fode.
domingo, 23 de dezembro de 2007
sábado, 22 de dezembro de 2007
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
Náusea. Vontade de nada
NÁUSEA. Vontade de nada.
Existir por não morrer.
Como as casas têm fachada,
Tenho este modo de ser.
Náusea. Vontade de nada.
Sento-me à beira da estrada,
Cansado já no caminho
Passo pra o lugar vizinho.
Mas náusea. Nada me pesa
Senão a vontade presa
Do que deixei de pensar
Como quem fica a olhar...
Fernando Pessoa
NÁUSEA. Vontade de nada.
Existir por não morrer.
Como as casas têm fachada,
Tenho este modo de ser.
Náusea. Vontade de nada.
Sento-me à beira da estrada,
Cansado já no caminho
Passo pra o lugar vizinho.
Mas náusea. Nada me pesa
Senão a vontade presa
Do que deixei de pensar
Como quem fica a olhar...
Fernando Pessoa
Lídia
Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros
Onde que quer que estejamos.
Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros
Onde quer que moremos, Tudo é alheio
Nem fala língua nossa.
Façamos de nós mesmos o retiro
Onde esconder-nos, tímidos do insulto
Do tumulto do mundo.
Que quer o amor mais que não ser dos outros?
Como um segredo dito nos mistérios,
Seja sacro por nosso.
Ricardo Reis
Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros
Onde que quer que estejamos.
Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros
Onde quer que moremos, Tudo é alheio
Nem fala língua nossa.
Façamos de nós mesmos o retiro
Onde esconder-nos, tímidos do insulto
Do tumulto do mundo.
Que quer o amor mais que não ser dos outros?
Como um segredo dito nos mistérios,
Seja sacro por nosso.
Ricardo Reis
Nuvens
No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
Obrigações morais e civis?
Complexidade de deveres, de conseqüências?
Não, nada...
O dia triste, a pouca vontade para tudo...
Nada...
Outros viajam (também viajei), outros estão ao sol
(Também estive ao sol, ou supus que estive).
Todos têm razão, ou vida, ou ignorância simétrica,
Vaidade, alegria e sociabilidade,
E emigram para voltar, ou para não voltar,
Em navios que os transportam simplesmente.
Não sentem o que há de morte em toda a partida,
De mistério em toda a chegada,
De horrível em iodo o novo...
Não sentem: por isso são deputados e financeiros,
Dançam e são empregados no comércio,
Vão a todos os teatros e conhecem gente...
Não sentem: para que haveriam de sentir?
Gado vestido dos currais dos Deuses,
Deixá-lo passar engrinaldado para o sacrifício
Sob o sol, álacre, vivo, contente de sentir-se...
Deixai-o passar, mas ai, vou com ele sem grinalda
Para o mesmo destino!
Vou com ele sem o sol que sinto, sem a vida que tenho,
Vou com ele sem desconhecer...
No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
No dia triste todos os dias...
No dia tão triste...
Álvaro de Campos
No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
Obrigações morais e civis?
Complexidade de deveres, de conseqüências?
Não, nada...
O dia triste, a pouca vontade para tudo...
Nada...
Outros viajam (também viajei), outros estão ao sol
(Também estive ao sol, ou supus que estive).
Todos têm razão, ou vida, ou ignorância simétrica,
Vaidade, alegria e sociabilidade,
E emigram para voltar, ou para não voltar,
Em navios que os transportam simplesmente.
Não sentem o que há de morte em toda a partida,
De mistério em toda a chegada,
De horrível em iodo o novo...
Não sentem: por isso são deputados e financeiros,
Dançam e são empregados no comércio,
Vão a todos os teatros e conhecem gente...
Não sentem: para que haveriam de sentir?
Gado vestido dos currais dos Deuses,
Deixá-lo passar engrinaldado para o sacrifício
Sob o sol, álacre, vivo, contente de sentir-se...
Deixai-o passar, mas ai, vou com ele sem grinalda
Para o mesmo destino!
Vou com ele sem o sol que sinto, sem a vida que tenho,
Vou com ele sem desconhecer...
No dia triste o meu coração mais triste que o dia...
No dia triste todos os dias...
No dia tão triste...
Álvaro de Campos
domingo, 18 de novembro de 2007
Em passar sua vagínula sobre as pobres coisas do chão, a
lesma deixa risquinhos líquidos...
A lesma influi muito em meu desejo de gosmar sobre as
palavras
Neste coito com letras!
Na áspera secura de uma pedra a lesma esfrega-se
Na avidez de deserto que é a vida de uma pedra a lesma
escorre. . .
Ela fode a pedra.
Ela precisa desse deserto para viver.
Manoel de Barros
lesma deixa risquinhos líquidos...
A lesma influi muito em meu desejo de gosmar sobre as
palavras
Neste coito com letras!
Na áspera secura de uma pedra a lesma esfrega-se
Na avidez de deserto que é a vida de uma pedra a lesma
escorre. . .
Ela fode a pedra.
Ela precisa desse deserto para viver.
Manoel de Barros
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
Livro de Visitas
Depois de morto,
quero morrer mais devagar.
O fogo se encurva,
um pai fingindo dormir ao filho.
O riacho é um cavalo líquido,
a pedra é um cavalo preso.
As borboletas são flores com abelhas dentro.
Liberdade é apenas mudar a forma.
o que não diminui a solidão
do nascimento.
Eu me consumi
antes de ter nascido
Não ter mistérios
é o maior deles.
Falsificava a assinatura
nas ocorrências escolares.
Sou incapaz de dizer uma verdade
sem desconficar dela
Meus ouvidos nasceram ajoelhados.
Mal leio os jornais de manhã.
Fui me desinformando por completo.
Eliminando a noção das enchentes, das calamidades,
dos crime, o que me alojava no mundo.
Não tenho nada pra conversar
que não seja escrito.
Prefiro comer em silêncio,
como se tivesse pescando.
As pombas arrulham e não me dão paz.
Fracasso para poder contar aos filhos.
Pouco resta da minha intuição.
Aqui estou, como tu, cavando
uma posição para não morrer a toa.
Não há regresso possível sem que alguém fique.
Toco o sexo. toco, movido pelo tédio,
espernando uma explosão áspera
o dobrar da seiva, toco, conferindo se respirando.
Quem não chegou a uma estação tarde de si
a pressentir que o último ônibus passou?
Sou muito dividido
para me reunir no domingo
em família
O sedutor é indiferente
Não eu, não consigo me livrar
do ímpeto de permanecer,
de me desculpar mesmo
quando não errei.
Não é nenhuma vantagem
conhecer teus hábitos.
O que é visível já não é meu..
Poderíamos conviver mudos.
enlaçando as gaiolas somente
em dias cheios de brisa
o corpo não pede licença pra envelhecer.
São pequenas dores
que nunca se completam.
As cicatrizes desaparecem na pele enrugada.
Decoro o caminho da ferida.
senão a perco.
Quem vive muito vai parecer pouco.
Quem vive pouco vai parecer muito.
Carpinejar
Depois de morto,
quero morrer mais devagar.
O fogo se encurva,
um pai fingindo dormir ao filho.
O riacho é um cavalo líquido,
a pedra é um cavalo preso.
As borboletas são flores com abelhas dentro.
Liberdade é apenas mudar a forma.
o que não diminui a solidão
do nascimento.
Eu me consumi
antes de ter nascido
Não ter mistérios
é o maior deles.
Falsificava a assinatura
nas ocorrências escolares.
Sou incapaz de dizer uma verdade
sem desconficar dela
Meus ouvidos nasceram ajoelhados.
Mal leio os jornais de manhã.
Fui me desinformando por completo.
Eliminando a noção das enchentes, das calamidades,
dos crime, o que me alojava no mundo.
Não tenho nada pra conversar
que não seja escrito.
Prefiro comer em silêncio,
como se tivesse pescando.
As pombas arrulham e não me dão paz.
Fracasso para poder contar aos filhos.
Pouco resta da minha intuição.
Aqui estou, como tu, cavando
uma posição para não morrer a toa.
Não há regresso possível sem que alguém fique.
Toco o sexo. toco, movido pelo tédio,
espernando uma explosão áspera
o dobrar da seiva, toco, conferindo se respirando.
Quem não chegou a uma estação tarde de si
a pressentir que o último ônibus passou?
Sou muito dividido
para me reunir no domingo
em família
O sedutor é indiferente
Não eu, não consigo me livrar
do ímpeto de permanecer,
de me desculpar mesmo
quando não errei.
Não é nenhuma vantagem
conhecer teus hábitos.
O que é visível já não é meu..
Poderíamos conviver mudos.
enlaçando as gaiolas somente
em dias cheios de brisa
o corpo não pede licença pra envelhecer.
São pequenas dores
que nunca se completam.
As cicatrizes desaparecem na pele enrugada.
Decoro o caminho da ferida.
senão a perco.
Quem vive muito vai parecer pouco.
Quem vive pouco vai parecer muito.
Carpinejar
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
Nota Azul
Uma nota azul
Bailando pelo ar
Uma tristeza ébria
Que não se pode afirmar.
Uma nota, blues.
Dançando devagar
A solidão é um soneto
Difícil de se rimar.
E nós todos quem somos?
Nesse contínuo penar
Um bando de loucos, quem sabe?
Que não para de gargalhar.
Tem sangue nos meus pulmões
Ácido nas minhas veias
Todas as minhas ilusões
Presas nas tuas teias.
Como se nada fosse
E a final nada é
Algo muito mais doce
Do que aquilo que se quer.
Uma nota azul,
Quase rouca inexistente
E um sentimento blues
Bailando na minha mente.
Carolina Veríssimo
http://alas-para-volar.blogspot.com
Uma nota azul
Bailando pelo ar
Uma tristeza ébria
Que não se pode afirmar.
Uma nota, blues.
Dançando devagar
A solidão é um soneto
Difícil de se rimar.
E nós todos quem somos?
Nesse contínuo penar
Um bando de loucos, quem sabe?
Que não para de gargalhar.
Tem sangue nos meus pulmões
Ácido nas minhas veias
Todas as minhas ilusões
Presas nas tuas teias.
Como se nada fosse
E a final nada é
Algo muito mais doce
Do que aquilo que se quer.
Uma nota azul,
Quase rouca inexistente
E um sentimento blues
Bailando na minha mente.
Carolina Veríssimo
http://alas-para-volar.blogspot.com
terça-feira, 6 de novembro de 2007
Nunca se dar
Este nunca se dar
agora nos vermelhos
como ferros em brasa
que entretanto se esfumam
Nunca se dar, em negros,
só, entre lobo e cão,
branco como parede
nem ao menos um ocre
Ser que se escamoteia
entre o roxo e seu não
-os intervalos flavos,
glauco estar mas em vão
Nunca, sequer em tons,
quebram-se, lascas roxas,
sons se afogam na boca,
nesta troca de nãos
Régis Bonvicino
Este nunca se dar
agora nos vermelhos
como ferros em brasa
que entretanto se esfumam
Nunca se dar, em negros,
só, entre lobo e cão,
branco como parede
nem ao menos um ocre
Ser que se escamoteia
entre o roxo e seu não
-os intervalos flavos,
glauco estar mas em vão
Nunca, sequer em tons,
quebram-se, lascas roxas,
sons se afogam na boca,
nesta troca de nãos
Régis Bonvicino
Casa
Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.
Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.
Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão. . .
Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que sem voz me sai do coração.
David Mourão Ferreira
Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.
Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.
Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão. . .
Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que sem voz me sai do coração.
David Mourão Ferreira
domingo, 4 de novembro de 2007
Mais Clarice Lispector
Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completo quando não entendo.
Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples estado de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma bênção estranha, como ter loucura sem ser doido. É um desinteresse manso, uma doçura de burrice.
Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais, mas pelo menos entender que não entendo.
Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completo quando não entendo.
Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples estado de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma bênção estranha, como ter loucura sem ser doido. É um desinteresse manso, uma doçura de burrice.
Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais, mas pelo menos entender que não entendo.
Fragmentos do Fernando Pessoa:
Sentir é compreender. Pensar é errar. Compreender o que outra pessoa pensa é discordar dela. Compreender o que outra pessoa sente é ser ela. Ser outra pessoa é de uma grande utilidade metafísica. Deus é toda a gente.
Afirmar é enganar-se na porta.
Pensar é limitar. Raciocinar é excluir. Há muito que é bom pensar, porque há muito que é bom limitar e excluir.
Substitui-te sempre a ti próprio. Tu não és bastante para ti. Sê sempre imprevenido [?] por ti próprio. Acontece-te perante ti próprio. Que as tuas sensações sejam meros acasos, aventuras que te acontecem. Deves ser um universo sem leis para poderes ser superior.
Faze de tua alma uma metafísica, uma ética e uma estética. Substitui-te a Deus indecorosamente. É a única atitude realmente religiosa (Deus está em toda a parte excepto em si próprio).
Faze do teu ser uma religião ateísta; das tuas sensações um rito e um culto
Sentir é compreender. Pensar é errar. Compreender o que outra pessoa pensa é discordar dela. Compreender o que outra pessoa sente é ser ela. Ser outra pessoa é de uma grande utilidade metafísica. Deus é toda a gente.
Afirmar é enganar-se na porta.
Pensar é limitar. Raciocinar é excluir. Há muito que é bom pensar, porque há muito que é bom limitar e excluir.
Substitui-te sempre a ti próprio. Tu não és bastante para ti. Sê sempre imprevenido [?] por ti próprio. Acontece-te perante ti próprio. Que as tuas sensações sejam meros acasos, aventuras que te acontecem. Deves ser um universo sem leis para poderes ser superior.
Faze de tua alma uma metafísica, uma ética e uma estética. Substitui-te a Deus indecorosamente. É a única atitude realmente religiosa (Deus está em toda a parte excepto em si próprio).
Faze do teu ser uma religião ateísta; das tuas sensações um rito e um culto
A FLAUTA VERTEBRADA
A todos vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.
Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.
Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.
Maiakovski
A todos vocês,
que eu amei e que eu amo,
ícones guardados num coração-caverna,
como quem num banquete ergue a taça e celebra,
repleto de versos levanto meu crânio.
Penso, mais de uma vez:
seria melhor talvez
pôr-me o ponto final de um balaço.
Em todo caso
eu
hoje vou dar meu concerto de adeus.
Memória!
Convoca aos salões do cérebro
um renque inumerável de amadas.
Verte o riso de pupila em pupila,
veste a noite de núpcias passadas.
De corpo a corpo verta a alegria.
esta noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras.
Maiakovski
Os Três Mal-Amados
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
Na madrugada insone
Te procuro e não acho
E por dias não te verei
Até o próximo desabafo
Ressoa o eco das últimas palavras sem resposta,
pedido de atenção.
E tu como vai?
É só retórica.
Não queres saber,
pois posso destruir sua fantasia.
Eu respondo tudo bem ponto final,
pois temo perder sua companhia.
E fico tentando,
nesse não ser que me tornei,
vislumbrar num caleidoscópio,
quais fragmentos de mulheres posso unir
nesse mosaico que te apresento
sugerindo algo mais
que o vazio.
Dance in the Dark
Te procuro e não acho
E por dias não te verei
Até o próximo desabafo
Ressoa o eco das últimas palavras sem resposta,
pedido de atenção.
E tu como vai?
É só retórica.
Não queres saber,
pois posso destruir sua fantasia.
Eu respondo tudo bem ponto final,
pois temo perder sua companhia.
E fico tentando,
nesse não ser que me tornei,
vislumbrar num caleidoscópio,
quais fragmentos de mulheres posso unir
nesse mosaico que te apresento
sugerindo algo mais
que o vazio.
Dance in the Dark
Cadinho do mestre Leminski
parem
eu confesso
sou poeta
cada manhã que nasce
me nasce
uma rosa na face
parem
eu confesso
sou poeta
só meu amor é meu deus
eu sou o seu profeta
*************************
pariso
novayorquizo
moscoviteio
sem sair do bar
só não levanto e vou embora
porque tem países
que eu nem chego a madagascar
parem
eu confesso
sou poeta
cada manhã que nasce
me nasce
uma rosa na face
parem
eu confesso
sou poeta
só meu amor é meu deus
eu sou o seu profeta
*************************
pariso
novayorquizo
moscoviteio
sem sair do bar
só não levanto e vou embora
porque tem países
que eu nem chego a madagascar
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
sábado, 27 de outubro de 2007
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
VIDA
A vida tem um silêncio
Pesado.
Sou pertencida pelo olhar das
Coisas,
Pela despretensão do
Orvalho.
Ao clarear o dia
Estou comovida
Pela noite que por mim
Passou,
Pelo sono que não
Dormi.
Há dias oblíquos e sombrios
Em que me aguarda o túmulo
Das incertezas e da insanidade.
Há dias, muitos dias, demasiados,
Em que a vida grita
Para morrer.
Cássia Janeiro
http://poesiaedor.blogspot.com/
A vida tem um silêncio
Pesado.
Sou pertencida pelo olhar das
Coisas,
Pela despretensão do
Orvalho.
Ao clarear o dia
Estou comovida
Pela noite que por mim
Passou,
Pelo sono que não
Dormi.
Há dias oblíquos e sombrios
Em que me aguarda o túmulo
Das incertezas e da insanidade.
Há dias, muitos dias, demasiados,
Em que a vida grita
Para morrer.
Cássia Janeiro
http://poesiaedor.blogspot.com/
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
olá!
quando a morte se aproximar com o seu frio e último beijo
estarei preparado(já tive a minha dose de
beijos
mortais.)
as mulheres fatais que me ajudaram
a consumir as horas
os anos
prepararam-me para a
escuridão.
quando a morte se aproximar com o seu frio e último beijo
estarei preparado:
é só mais uma puta
que vem
aproveitar-se
de mim.
charles bukowski
quando a morte se aproximar com o seu frio e último beijo
estarei preparado(já tive a minha dose de
beijos
mortais.)
as mulheres fatais que me ajudaram
a consumir as horas
os anos
prepararam-me para a
escuridão.
quando a morte se aproximar com o seu frio e último beijo
estarei preparado:
é só mais uma puta
que vem
aproveitar-se
de mim.
charles bukowski
meu coração
tava para alugar
tomaram posse
com direito a rio e tudo
armaram barraca
e acamparam.
fizeram piquinique
misturaram minhas emoções
com água tônica e café
virei quinino
sobrou um gosto amargo
deixa eu ser coisa
e me põe no teu armário
me olha sempre
me pega
me abre
coloca teus objetos preciosos dentro de mim
me chaveia
escreve poemas com força na minha supeficie
me marca
me joga no fundo de um rio
se eu boiar
me resgata
me liberta
serei uma mulher
a sua
Fernanda Alice
tava para alugar
tomaram posse
com direito a rio e tudo
armaram barraca
e acamparam.
fizeram piquinique
misturaram minhas emoções
com água tônica e café
virei quinino
sobrou um gosto amargo
deixa eu ser coisa
e me põe no teu armário
me olha sempre
me pega
me abre
coloca teus objetos preciosos dentro de mim
me chaveia
escreve poemas com força na minha supeficie
me marca
me joga no fundo de um rio
se eu boiar
me resgata
me liberta
serei uma mulher
a sua
Fernanda Alice
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
ADEUS
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certezade que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certezade que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade
Thiago Marques
cantodothiago@hotmail.com
O pobre do meu coração
coloquei no vibracall
era tanta ligação
tanta ferida com sal
fui desligando aos poucos
as chamadas todas perdidas
as chegadas todas partidas
essa é a sina dos loucos
cantodothiago@hotmail.com
O pobre do meu coração
coloquei no vibracall
era tanta ligação
tanta ferida com sal
fui desligando aos poucos
as chamadas todas perdidas
as chegadas todas partidas
essa é a sina dos loucos
Carta Dani
Cazuza
Escrevo numa tarde cinzenta e fria
Trabalho pra espantar a solidão e meus pensamentos
Hoje assumi em público minha doença
Estou mais leve, mais livre
Mas ainda tenho muitos medos
Medo de voar, de amar
Medo de morrer, de ser feliz
Medo de fazer análise e perder inspiração
Ganho dinheiro cantando minhas desgraças
Comprar uma fazenda, fazer filhos
Talvez seja uma maneira de ficar pra sempre na terra
Porque discos arranham e quebram
Amor
Cazuza
Cazuza
Escrevo numa tarde cinzenta e fria
Trabalho pra espantar a solidão e meus pensamentos
Hoje assumi em público minha doença
Estou mais leve, mais livre
Mas ainda tenho muitos medos
Medo de voar, de amar
Medo de morrer, de ser feliz
Medo de fazer análise e perder inspiração
Ganho dinheiro cantando minhas desgraças
Comprar uma fazenda, fazer filhos
Talvez seja uma maneira de ficar pra sempre na terra
Porque discos arranham e quebram
Amor
Cazuza
Em uma das noites
De profunda tristeza e solidão
Onde tudo parecia perdido
Encontrei você, um desconhecido
Que parece me conhecer como ninguém
A vida está perdendo o sentido
Não sei o que fazer ou dizer
Penso em você grande parte do dia
E lamento quando não posso te ver
Não sei explicar o que é
Isso nunca me aconteceu antes
Não posso deixar você tomar conta de mim
Mas como?
Você já tomou conta de meus sentimentos mais calorosos
Sinto o seu calor a todo momento
Sem mesmo ter nunca recebido um beijo seu
Você me aquece nas noites frias em que estou só
É tanta coisa boa que acontece, que ocupo meus dias com as recordações
Sei que isso é assustador
Tenha certeza de que é mais pra mim do que pra você
Estou triste
Nunca pensei passar por um momento delicado como este
Mas a vontade de te ver persiste
Eu realmente, não sei o que fazer
Só sei que quero você pra mim
Um dia, uma hora, um prazer
Meu corpo clama pelo seu
Meu corpo não se apaga
Sobras das chamas que você me ascendeu
Tenho medo, quero fugir
Mas não adianta, suas palavras, todo o seu carinho
Só serviram pra confirmar:
Eu morro de tesão por você !!!!!
Malu
De profunda tristeza e solidão
Onde tudo parecia perdido
Encontrei você, um desconhecido
Que parece me conhecer como ninguém
A vida está perdendo o sentido
Não sei o que fazer ou dizer
Penso em você grande parte do dia
E lamento quando não posso te ver
Não sei explicar o que é
Isso nunca me aconteceu antes
Não posso deixar você tomar conta de mim
Mas como?
Você já tomou conta de meus sentimentos mais calorosos
Sinto o seu calor a todo momento
Sem mesmo ter nunca recebido um beijo seu
Você me aquece nas noites frias em que estou só
É tanta coisa boa que acontece, que ocupo meus dias com as recordações
Sei que isso é assustador
Tenha certeza de que é mais pra mim do que pra você
Estou triste
Nunca pensei passar por um momento delicado como este
Mas a vontade de te ver persiste
Eu realmente, não sei o que fazer
Só sei que quero você pra mim
Um dia, uma hora, um prazer
Meu corpo clama pelo seu
Meu corpo não se apaga
Sobras das chamas que você me ascendeu
Tenho medo, quero fugir
Mas não adianta, suas palavras, todo o seu carinho
Só serviram pra confirmar:
Eu morro de tesão por você !!!!!
Malu
Esse poema tem muitos elementos da maneira que eu gostaria de ser amado.
Salve grande Adélia Prado.
Para o Zé
Adélia Prado
Eu te amo, homem, hoje como
toda vida quis e não sabia,
eu que já amava de extremoso amoro peixe, a mala velha, o papel de seda e os riscos
de bordado, onde tem
o desenho cômico de um peixe — os
lábios carnudos como os de uma negra.
Divago, quando o que quero é só dizer
te amo. Teço as curvas, as mistas
e as quebradas, industriosa como abelha,
alegrinha como florinha amarela, desejando
as finuras, violoncelo, violino, menestrel
e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito
pra escutar o que bate. Eu te amo, homem, amo
o teu coração, o que é, a carne de que é feito,
amo sua matéria, fauna e flora,
seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas
perdidas nas casas que habitamos, os fios
de tua barba. Esmero. Pego tua mão, me afasto, viajo
pra ter saudade, me calo, falo em latim pra requintar meu gosto:“Dize-me, ó amado da minha alma, onde apascentaso teu gado, onde repousas ao meio-dia, para que eu não
ande vagueando atrás dos rebanhos de teus companheiros”.
Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama
fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.Te alinho junto das coisas que falam
uma coisa só: Deus é amor. Você me espicaça como
o desenho do peixe da guarnição de cozinha, você me guarnece,
tira de mim o ar desnudo, me faz bonitade olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega,
me dá um filho, comida, enche minhas mãos.
Eu te amo, homem, exatamente como amo o que
acontece quando escuto oboé. Meu coração vai desdobrando
os panos, se alargando aquecido, dandoa volta ao mundo, estalando os dedos pra pessoa e bicho.
Amo até a barata, quando descubro que assim te amo,
o que não queria dizer amo também, o piolho.
Assim,te amo do modo mais natural, vero-romântico,
homem meu, particular homem universal.
Tudo que não é mulher está em ti, maravilha.
Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos,
a luz na cabeceira, o abajur de prata;
como criada ama, vou te amar, o delicioso amor:
com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso,
me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles eu beijo.
Salve grande Adélia Prado.
Para o Zé
Adélia Prado
Eu te amo, homem, hoje como
toda vida quis e não sabia,
eu que já amava de extremoso amoro peixe, a mala velha, o papel de seda e os riscos
de bordado, onde tem
o desenho cômico de um peixe — os
lábios carnudos como os de uma negra.
Divago, quando o que quero é só dizer
te amo. Teço as curvas, as mistas
e as quebradas, industriosa como abelha,
alegrinha como florinha amarela, desejando
as finuras, violoncelo, violino, menestrel
e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito
pra escutar o que bate. Eu te amo, homem, amo
o teu coração, o que é, a carne de que é feito,
amo sua matéria, fauna e flora,
seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas
perdidas nas casas que habitamos, os fios
de tua barba. Esmero. Pego tua mão, me afasto, viajo
pra ter saudade, me calo, falo em latim pra requintar meu gosto:“Dize-me, ó amado da minha alma, onde apascentaso teu gado, onde repousas ao meio-dia, para que eu não
ande vagueando atrás dos rebanhos de teus companheiros”.
Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama
fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.Te alinho junto das coisas que falam
uma coisa só: Deus é amor. Você me espicaça como
o desenho do peixe da guarnição de cozinha, você me guarnece,
tira de mim o ar desnudo, me faz bonitade olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega,
me dá um filho, comida, enche minhas mãos.
Eu te amo, homem, exatamente como amo o que
acontece quando escuto oboé. Meu coração vai desdobrando
os panos, se alargando aquecido, dandoa volta ao mundo, estalando os dedos pra pessoa e bicho.
Amo até a barata, quando descubro que assim te amo,
o que não queria dizer amo também, o piolho.
Assim,te amo do modo mais natural, vero-romântico,
homem meu, particular homem universal.
Tudo que não é mulher está em ti, maravilha.
Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos,
a luz na cabeceira, o abajur de prata;
como criada ama, vou te amar, o delicioso amor:
com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso,
me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles eu beijo.
Eu gosto, mas não é muito
(Ismael Silva, Nilton Bastos e Francisco Alves)
Gravação Jards Macalé
Olha, escuta meu bem
É com você que eu estou falando, neném
Esse negocio de amor, não convém
Gosto de você, mas não é muito...muito...
Fica firme, não estrilaTraz o retrato e a estampilha
Que eu vou vê
O que eu posso fazer por você
Teu amor é insensato
Me amofinou mesmo de fato
Não leve a mal
Eu prefiro a lei marcial
do site http://www.mpbnet.com.br/musicos/jards.macale/letras/eu_gosto_mas_nao_e_muito.htm
(Ismael Silva, Nilton Bastos e Francisco Alves)
Gravação Jards Macalé
Olha, escuta meu bem
É com você que eu estou falando, neném
Esse negocio de amor, não convém
Gosto de você, mas não é muito...muito...
Fica firme, não estrilaTraz o retrato e a estampilha
Que eu vou vê
O que eu posso fazer por você
Teu amor é insensato
Me amofinou mesmo de fato
Não leve a mal
Eu prefiro a lei marcial
do site http://www.mpbnet.com.br/musicos/jards.macale/letras/eu_gosto_mas_nao_e_muito.htm
Eu tava vendo aquele "Filme Falado" do Caetano e num dado momento surgiu essa música.
Noel Rosa Último desejo
Obs: Com este samba, Noel despediu-se de Ceci. Toda a amargura provocada pelo amor fracassado aparece nesta obra tão endereçada à ‘‘dama do cabaré'' que ele pediu ao parceiro ‘Vadico' que entregasse a letra a ela. Segundo contou Ceci ao jornalista, crítico e historiador Ary Vasconcelos, numa entrevista para a revista ‘Fairplay', ela recebeu a letra junto com a notícia da morte de Noel Rosa. João Máximo e Carlos Didier contam que,ao entregar a letra, Vadico comentou: ‘‘Acho que ele te castiga umpouco neste samba, Ceci.'' É provável que Ceci tenha-se sentidocastigada, mas Noel contribui, sem dúvida, para mais uma obra-primada música popular brasileira.Este clássico de Noel alimentou, durante muitos anos,a rivalidade entre as cantoras Araci de Almeida e Marília Batista,ambas defendendo a posição de intérprete preferida de NoelRosa. Segundo Marília Batista, a verdadeira versão de Último Desejoé a gravada por ela e não a de Araci, gravada em 1937, quando ocompositor ainda vivia. Marília dizia ter aprendido a música com opróprio Noel e, além disso, a sua versão coincide com a partitura que o autor ditou para que Vadico escrevesse. A verdade, porém, é que a música foi consagrada na versão apresentada por Araci de Almeida.
(De: Noel Rosa)
Nosso amor que eu não esqueço,
e que teve o seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete,
sem retrato e sem bilhete,
sem luar, sem violão
Perto de você me calo,
tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar
Nunca mais quero o seu beijo
mas meu último desejo
você não pode negar
Se alguma pessoa amiga
pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não,
diga que você me adora
Que você lamenta e chora
a nossa separação
às pessoas que eu detesto,
diga sempre que eu não presto
Que meu lar é o botequim,
que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida
que você pagou pra mim.
Noel Rosa Último desejo
Obs: Com este samba, Noel despediu-se de Ceci. Toda a amargura provocada pelo amor fracassado aparece nesta obra tão endereçada à ‘‘dama do cabaré'' que ele pediu ao parceiro ‘Vadico' que entregasse a letra a ela. Segundo contou Ceci ao jornalista, crítico e historiador Ary Vasconcelos, numa entrevista para a revista ‘Fairplay', ela recebeu a letra junto com a notícia da morte de Noel Rosa. João Máximo e Carlos Didier contam que,ao entregar a letra, Vadico comentou: ‘‘Acho que ele te castiga umpouco neste samba, Ceci.'' É provável que Ceci tenha-se sentidocastigada, mas Noel contribui, sem dúvida, para mais uma obra-primada música popular brasileira.Este clássico de Noel alimentou, durante muitos anos,a rivalidade entre as cantoras Araci de Almeida e Marília Batista,ambas defendendo a posição de intérprete preferida de NoelRosa. Segundo Marília Batista, a verdadeira versão de Último Desejoé a gravada por ela e não a de Araci, gravada em 1937, quando ocompositor ainda vivia. Marília dizia ter aprendido a música com opróprio Noel e, além disso, a sua versão coincide com a partitura que o autor ditou para que Vadico escrevesse. A verdade, porém, é que a música foi consagrada na versão apresentada por Araci de Almeida.
(De: Noel Rosa)
Nosso amor que eu não esqueço,
e que teve o seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete,
sem retrato e sem bilhete,
sem luar, sem violão
Perto de você me calo,
tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar
Nunca mais quero o seu beijo
mas meu último desejo
você não pode negar
Se alguma pessoa amiga
pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não,
diga que você me adora
Que você lamenta e chora
a nossa separação
às pessoas que eu detesto,
diga sempre que eu não presto
Que meu lar é o botequim,
que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida
que você pagou pra mim.
Nilo de quem...?
talvez de alguém...
Nem sei se deve...
Porém, me ferve!
São palavras roucas ,
que me envolve louca,
numa imaginação......
finjindo à razao.
Solidão profunda...?
instinto...libido...tesão,
dispara...sacode...desperta meu coração.
não existe o espaço,
nem a forma física.
É apenas vontade...saudade...
Saudade de que...?
vontade em quem...?
Alguém q'ainda não é...
mas deixa cratera...
E agora sou fera...
em um canto qualquer...
desejo, sinto, deliro, sonho...
e desperto em vc...
(Bia Viana)
talvez de alguém...
Nem sei se deve...
Porém, me ferve!
São palavras roucas ,
que me envolve louca,
numa imaginação......
finjindo à razao.
Solidão profunda...?
instinto...libido...tesão,
dispara...sacode...desperta meu coração.
não existe o espaço,
nem a forma física.
É apenas vontade...saudade...
Saudade de que...?
vontade em quem...?
Alguém q'ainda não é...
mas deixa cratera...
E agora sou fera...
em um canto qualquer...
desejo, sinto, deliro, sonho...
e desperto em vc...
(Bia Viana)
Afluente do Nilo
O Nilo é um rio do nordeste do continente africano
que nasce a sul da linha do equadore deságua no mar mediterrâneo.
Mas é na terceira margem
que o outro Nilo me encontra.
Eu sempre soube as lições de geografia,
agora, o que eu gosto mesmo
é de navegar no delta de sua poesia.
Elisa Carvalho
Para Nilo Neto
O Nilo é um rio do nordeste do continente africano
que nasce a sul da linha do equadore deságua no mar mediterrâneo.
Mas é na terceira margem
que o outro Nilo me encontra.
Eu sempre soube as lições de geografia,
agora, o que eu gosto mesmo
é de navegar no delta de sua poesia.
Elisa Carvalho
Para Nilo Neto
Ah meu querido te aceito com és.
Tu sabes disso.
Sempre te procurei por todos os lugares onde andei,
Por todos os olhares em que viajei,
saibas sempre te procurei.
Com todas as minhas forças , com todos os meus desejos, sempre te procurei
Em cada sorriso, em cada sentido, em cada gemido, sempre te procurei
E agora que encontrei, não tenho a certeza de que terei aquele que há tanto tempo procurei.
Luci Vieira
Tu sabes disso.
Sempre te procurei por todos os lugares onde andei,
Por todos os olhares em que viajei,
saibas sempre te procurei.
Com todas as minhas forças , com todos os meus desejos, sempre te procurei
Em cada sorriso, em cada sentido, em cada gemido, sempre te procurei
E agora que encontrei, não tenho a certeza de que terei aquele que há tanto tempo procurei.
Luci Vieira
Essa é do Pin Guh Lin, da comunidade do Orkut Bukowski - O velho safado.
Por sinal recomendo, dei muitas risadas.http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=57138
hai-kai pedreiro
entre marmita& caliça
potranca metida passando
ô diliiiça...
Por sinal recomendo, dei muitas risadas.http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=57138
hai-kai pedreiro
entre marmita& caliça
potranca metida passando
ô diliiiça...
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