Eu precisava tirar férias. Precisava de cinco mulheres. Precisava tirar a cera dos ouvidos. Precisava trocar o óleo do carro. Tinha esquecido de apresentar a porra da declaração de rendimentos. Um dos meus óculos de leitura estava com o pino quebrado. O apartamento, cheio de formiga. Precisava limpar os dentes. Os sapatos estavam gastos no salto. Eu tinha insônia. O seguro do meu carro vencera. Eu me cortava toda vez que me barbeava. Há seis anos não dava uma boa risada. Tinha tendência a me preocupar quando não havia nada que se preocupar. E quando havia alguma preocupação real eu tomava um porre.
Charles Bukowski (Pulp)
sábado, 8 de setembro de 2012
quarta-feira, 18 de abril de 2012
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Relendo Pulp, do Bukowski.
Relendo Pulp, do Bukowski. Até agora, duas tiradas do velho safado:
"De algum modo, me perdi, os olhos grudados nas pernas dela. Sempre fui de perna. Foi a primeira coisa que eu vi quando nasci. Mas então eu tentava sair. Desde então, tenho me virado no sentido contrário, e com um azar dos diabos."
(...)
"Eu tinha talento, tenho talento. Às vezes olhava minhas mãos e compreendia que podia ter sido um grande pianista. Mas o que tinham feito minhas mãos? Coçado o saco, preenchido cheques, amarrado cadarços, puxado descargas de banheiros, etc. Desperdicei minhas mãos. E minha mente."
"De algum modo, me perdi, os olhos grudados nas pernas dela. Sempre fui de perna. Foi a primeira coisa que eu vi quando nasci. Mas então eu tentava sair. Desde então, tenho me virado no sentido contrário, e com um azar dos diabos."
(...)
"Eu tinha talento, tenho talento. Às vezes olhava minhas mãos e compreendia que podia ter sido um grande pianista. Mas o que tinham feito minhas mãos? Coçado o saco, preenchido cheques, amarrado cadarços, puxado descargas de banheiros, etc. Desperdicei minhas mãos. E minha mente."
sábado, 17 de março de 2012
penamento fino
Pensamento fino.
Hoje quase sem perceber,
durante todo o meu dia,
eu só pensava em você.
Pensava assim com jeito
de quem não queria pensar.
Num pensamento fino e cortante,
que ia por debaixo das coisas
que eu queria pensar direito.
Pensava assim como um defeito
no meu jeito de pensar,
um erro, uma falha
de quem não quer se lembrar
mas que se engana, e se deixa enganar,
quando pensa para esquecer
e se esquece para lembrar.
Hoje o dia já se acabou,
e eu ainda penso em você.
Penso no que já pensei
quando não queria pensar,
E no que eu não pensei
porque queria pensar.
E penso, e repenso.
De novo torno a pensar.
E penso num pensamento,
que me parece sufocar.
Vai-te de mim, criatura!
Anda ! Desata !
Saia do meu pensamento,
tal qual me saíste da vida.
Deixa-me agora, vai, te afasta !
Que a hora já é hora
e eu preciso descansar.
Pois se sigo pensando em ti
tu que me negas e me faltas,
eu que me cuide, pois não,
que esse pensamento, qual faca,
esse pensamento me mata!
Hoje quase sem perceber,
durante todo o meu dia,
eu só pensava em você.
Pensava assim com jeito
de quem não queria pensar.
Num pensamento fino e cortante,
que ia por debaixo das coisas
que eu queria pensar direito.
Pensava assim como um defeito
no meu jeito de pensar,
um erro, uma falha
de quem não quer se lembrar
mas que se engana, e se deixa enganar,
quando pensa para esquecer
e se esquece para lembrar.
Hoje o dia já se acabou,
e eu ainda penso em você.
Penso no que já pensei
quando não queria pensar,
E no que eu não pensei
porque queria pensar.
E penso, e repenso.
De novo torno a pensar.
E penso num pensamento,
que me parece sufocar.
Vai-te de mim, criatura!
Anda ! Desata !
Saia do meu pensamento,
tal qual me saíste da vida.
Deixa-me agora, vai, te afasta !
Que a hora já é hora
e eu preciso descansar.
Pois se sigo pensando em ti
tu que me negas e me faltas,
eu que me cuide, pois não,
que esse pensamento, qual faca,
esse pensamento me mata!
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
buk erótico
Então lá estava eu, aos cinquenta e seis anos, na Zona Oeste de Los Angeles, às 3:45 da tarde, com duas das mais lindas mulheres da América - ou de qualquer outro lugar, diga-se de passagem. E com duas mulheres mais absurdamente difíceis do mundo - elas eram conscientes dos próprios corpos e de como os outros reagiam a esses corpos, e era muito difícil para elas seguirem sendo humanas com tudo acontecendo dessa maneira. No entanto ambas tinham brilho interior e jogo de cintura; não haviam sucumbido totalmente à aparência. Isso era desconcertante e mortal e maravilhoso.
C. Bukowski - Pedaços de um caderno manchado de vinho
C. Bukowski - Pedaços de um caderno manchado de vinho
Assinar:
Postagens (Atom)