sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O poeta propõe seu epitáfio
(Julio Cortázar)

Por haver mentido muito ganhou um céu
mesquinho, a ser refeito todos os dias.
Por ser traidor até à traição, o amavam
as pessoas honradas.
Exigia virtudes que não dava
e sorria para que esquecessem.
Não viveu. Viviam-no um corpo desapiedado
e uma cadela sedenta, Inteligência.
Por não acreditar senão no belo, foi
um lixo na lixeira,
mas ainda assim fitava o céu.
Está morto, por sorte. Logo surgirá
algum outro como ele.

Tradução de Tonico Mercador.

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